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texto e imagem

  • Foto do escritor: Nero
    Nero
  • 24 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura


o que é um texto? é uma imagem um texto? é o contexto parte do texto? estas interrogações, provavelmente desconcertantes para os mais distanciados do fulgor linguístico, têm entretido os linguistas nas últimas décadas, oportunamente. as linhas que separam e/ou que ligam todas as respostas poderão parecer elusivas, por vezes. todavia, resultarão em entendimentos, no mínimo, mais amplos e abundantes.


um poeta terá (?) alguma dificuldade em assumir que ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’ — pelo amor ou veneração à sua matéria-prima, por mais que a indissociabilidade entre as palavras e as imagens se institua como uma espécie de truísmo (quando muito não seja em potência; em poesia, a potência parece-me sempre uma forma de alguma concretização). não obstante, como se concluirá, a dualidade tenderá a esbater-se, à medida que a reflexão se aprofunda, concorrendo ambas — as palavras e as imagens — não nessa rivalidade fictícia, mas numa aliança em que se completam, raramente se substituindo, reflectindo a natureza e o pensamento humanos. em primeira ou última análise, o que uma e outra comunicam dependerá, justamente, da sua composição, da sua ‘tecitura’ — e aqui, pela etimologia, entrego a resolução das questões a algum tipo de circularidade.


a fotografia é de 2018. capta um instante em que, na contemplação do cair da noite, após um belíssimo pôr-do-sol, senti a totalidade da existência. as ondas, os pássaros, os insectos nocturnos, os sons idos das pessoas, um bafo de agosto que, ainda intenso, se mantinha. regressava ao algarve depois de uma década afastado. a tarde conhecera uma conversa profunda. depois da fotografia, o retorno ao carro. só. com o peso das estrelas aos ombros e aquela rara sensação de que o universo conspiraria a meu favor. naquele fôlego, a plenos pulmões, sentia-me parte do todo, fluindo com o todo, em perfeita comunhão com tudo à minha volta. não terei tido muitos momentos de tão imersiva conexão.


na privação da legenda, não sei se a imagem conseguiria transmitir tudo isto. há partilhas assim: despudoradamente simples, mas que representam memórias intensas. a pluralidade dos textos e os seus horizontes insondáveis.


nero

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