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pedra ruiva

  • Foto do escritor: Nero
    Nero
  • 1 de jun. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 24 de jun. de 2024

nem todos saberão que pedra é esta, a da fotografia. até à geração dos meus pais, era costume haver pelo menos uma no quintal de cada casa. costumes do sul. era, diziam-na, uma pedra de amolar, ideal para afiar as lâminas mais gastas. eram, como é esta, um pedaço das jazidas da amálgama de arenito e argilito a que chamaram “grés de silves”, por haver em relativa abundância nas imediações daquela que, outrora, foi a capital do reino dos algarves.


ao chegar a silves, se há vista que deslumbra é a do castelo, recuperado há já umas saudosas décadas, e que se talha e levanta, precisamente, dessa mesma pedra ruiva que encontra par, somente, nos solos do barrocal. um dia destes, trago-vos, de soslaio, alguns recortes desse belíssimo forte militar, que os árabes nos deixaram do tempo de al-andalus.



na segunda imagem, a reprodução de uma das cartas de al-mu’tamid. esta, para ibn tashfîn, já depois da fragmentação do garb andalusino, dá conta da ruína árabe e suplica por aliados, capazes de engrossar os exércitos nas batalhas contra afonso vi.


foram tempos quase inimagináveis. tão distantes e tão próximos. aconteceu crescer numa família cristã, católica — tivesse a história sido outra e quem sabe que família me calharia. esta deriva, no entanto, nada tem de extraordinário. cada cultura, cada país tem o seu passado e as suas memórias. e os seus ‘ses’. apesar da família, da tradição, quiseram-me as religiões tão pouco. ou talvez não.


a minha relação com os nossos antepassados árabes que, em tanto, ainda se nos mantêm vivos, fortaleceu-se, como não podia deixar de ser, pela minha passagem por silves, onde estudei. foi também em silves que al-mu’tamid passou os melhores anos da sua juventude. al-mu’tamid, poeta e rei. descobri-lo e redescobri-lo dá-me todo um novo sentido às pedras, como esta, do meu jardim, e a tantas outras, rubras, da cidade de silves, que se tocam e pisam todos os dias.


o meu próximo livro vem daqui, destas pedras e das suas memórias.

nero

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