Entrevista a Nero (1) — pela editora e leitora Raquel M. Lopes
- Nero
- 19 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de jan.

fotografia por Jorge Rosa
Raquel M. Lopes é licenciada em Medicina Dentária, escreve e conta histórias. Gere, em Viseu, um centro de estudo orientado: o projeto "Brincar a Escrever". É também responsável, com regularidade, por oficinas de escrita criativa para crianças.
Leitora da poesia de Nero, coloca-lhe as seguintes questões:
Embora seja uma pergunta “clichê”, quando percebeste este amor pelas palavras? Algum autor/livro que leste ajudou nessa descoberta?
É provável que, em diferentes fases da vida, venha a dar respostas diferentes a esta mesma pergunta, não significando isso que falto à verdade. Antes do amor pelas palavras, nutri amor pelas histórias. Sempre brinquei muito em criança, antes ainda de ter amigos e de partilhar com eles as brincadeiras. Talvez por isso sempre vivesse bem com o meu lado mais solitário, do qual nem todos se apercebem. Foi nessas brincadeiras que muitas histórias, seguramente, começaram.
O amor pelas palavras veio mais tarde, até porque tive um ligeiro atraso na fala, aliado a uma timidez que, perante os outros que não aqueles do meu núcleo próximo, me dificultou, nos primeiros anos, a comunicação. Esse atraso e essa timidez terão sido, em alguma medida, a causa um do outro. As palavras vieram com a escola, com os livros para crianças. Já escrevia pequenos livros que eu próprio editava lá por casa, dos quais fazia as capas e a paginação, nos meus anos do Ensino Básico. Mas terá sido O Senhor dos Anéis, do Tolkien, por altura do Secundário, a par dos vários autores do programa da disciplina de Português que me arrastaram, no melhor dos sentidos, para a Literatura; a destacar, Antero de Quental (o meu ídolo da altura) e, depois, incontornavelmente, Fernando Pessoa.
A tua primeira obra publicada é uma belíssima epopeia Oceano – O Reino das Águas (2021). Seguiu-se um poemário de cortar a respiração: Telúria (2023). Pensas aventurar-te num romance?
É sabido que tenho vários livros na gaveta e posso adiantar que nenhum deles é um romance — um deles será uma espécie de novela e não sei se será para publicação; o que, em todo o caso, constituirá a minha única incursão na prosa até ao momento. Cada novo livro tem sido, sempre, "terreno" para experimentação. Por isso, direi que é provável que venha a escrever um romance. Julgo que acabará por acontecer. Sou capaz de ter um título e umas ideias, mas não sei se dará para mais do que uma novela, novamente. Contudo, a vir a escrever um romance, resultará mais dessa necessidade de experimentação de que falava do que da vontade, imperiosa, de escrever um romance.
Que livro ocupa a tua mesa de cabeceira? Ou qual o último livro que leste?
Neste momento, estou a ler o Escrituras, de um autor algarvio, o Vítor Gil Cardeira. É o primeiro livro que lhe leio, depois de me ter cruzado com ele num evento literário (lá saí da toca, nesse dia) e de lhe ter escutado alguns contos. É muito autêntico, o Vítor, aprecio-lhe bastante isso nos textos. É um "trabalho" que tenho começado a fazer, com muito gosto e interesse, o de ler e descobrir autores da minha terra (como só regressei ao Algarve há poucos anos, e estive alheado do que por cá se fazia, tenho muita leitura para pôr em dia). É também um "trabalho" que creio ser da minha responsabilidade, este de ajudar a divulgar autores do Algarve, além do mais importante: a genuína qualidade do que por cá se escreve. Como muita gente, estou a ler também o Fortuna, Caso, Tempo e Sorte da Isabel Rio Novo e o último livro que (re)li terá sido o Poesia do Daniel Faria, da Assírio & Alvim, livro ao qual regresso muitas vezes.
O teu lema de vida é…?
"Para ser grande, sê inteiro", Ricardo Reis. Esta resposta foi fácil.
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